Quem quer que afirme que o apóstolo João negou um reino milenar futuro e literal, deve tratar primeiro com o texto de Apocalipse 20.1-6 (para maior explicação sobre essa passagem, ver os capítulos 3 e 6). O texto não poderia ser mais claro. Considere as palavras de João escrevendo de seu exílio na ilha de Patmos, encorajando seus leitores com a futura esperança:
“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo. E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos” (Apocalipse 20.1-6).
A passagem inequivocadamente ensina que o retorno de Cristo precede o reino milenar – um cenário incompatível com o Amilenismo e o Posmilenismo, mas que é exatamente o que ensina o Premilenismo Futurista. Para negar a cronologia que Apocalipse impõe às suas perspectivas, as posições amilenistas e posmilenistas precisam negar que o capítulo 20 segue cronologicamente o capítulo 19.[11] Mas tal negação ignora a significância cronológica da frase “e vi” (v. 1,4,11; cf. Ap 6.1,2,5,8,12; 7.2; 8.2,13; 9.1; 10.1; 13.1,11; 14.1,6,14; 15.1; 16.13; 17.3; 19.11,17,19; 21.1) e a continuidade do contexto. Tendo tratado do Anticristo e do falso profeta no capítulo 19, Cristo trata com o maligno, Satanás, no capítulo 20. Por que rejeitar uma cronologia tão óbvia? A principal motivação parece ser uma negação das conclusões Premilenistas Futuristas – na ausência daquela persuasiva justificativa bíblica.
A extensão do tempo em que Satanás será preso é definido como mil anos, isto é, as primeiras seis referências precisas e importantes à duração do milênio (cf. Ap 20.3,4,5,6,7). A prisão de Satanás traz sérias dificuldades para amilenistas e posmilenistas. Eles afirmam que Satanás já se encontra preso, pois crêem que já [supostamente] estamos vivendo o milênio (embora não entendam que a duração do milênio seja literalmente de mil anos). Muitos posmilenistas também crêem que Satanás esteja atualmente preso, pois, de outra forma, seria difícil ver como a igreja poderia antecipar o milênio. Entretanto, a atividade de Satanás na era presente torna impossível a afirmação de que ele esteja preso na era atual. Satanás introduz hipócritas mentirosos na igreja (At 5.3), trama esquemas contra os crentes (2Co 2.11; Ef 6.11), disfarça-se de anjo de luz para enganar as pessoas (2Co 11.14) e ataca os crentes (2Co 12.7; Ef 4.27). Satanás também deve ser resistido (Tg 4.7); ele atrapalha os que estão no ministério (1Ts 2.18) e leva os crentes ao desvio (1Tm 5.15). Amilenistas e posmilenistas geralmente argumentam que Satanás foi preso no momento da cruz e que tal prisão significa simplesmente que ele não pode mais enganar as nações, impendido-as de aprenderem a verdade de Deus. Mas Satanás nunca impediu as nações gentílicas de conhecerem a verdade antes de sua alegada prisão por ocasião da cruz. Os egípcios ouviram sobre o Deus verdadeiro pelos lábios de José e dos israelitas durante os quatrocentos anos em que lá viveram como escravos. Os assírios de Nínive não somente ouviram a verdade pela boca de Jonas, como também se arrependeram (Mt 12.41). A rainha de Sabá ouviu a respeito do verdadeiro Deus por meio de Salomão (1Re 10.1-9); os babilônios ouviram através de Daniel e de seus amigos judeus; os persas ouviram sobre Deus através de Ester, Mordecai e Neemias. Ademais, em que sentido Satanás é impedido de enganar as nações na era presente, quando Paulo afirma [peremptoriamente] que ele cega o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4), e que ele “agora opera nos filhos da desobediência” (Ef 2.2), e que “mantém cativos os descrentes” (2Tm 2.26) em seu atual império (Cl 1.13)?
A Escritura testifica que tudo pode ser dito de Satanás nesta era, menos que esteja preso, o que acontecerá somente no reino terreno vindouro de nosso Senhor Jesus Cristo. Somente então o príncipe das trevas será encarcerado no grande abismo, que será fechado e selado para que ele não possa mais enganar as nações (cf. Is 24.21-22). Sua atividade no mundo não será meramente restringida ou refreada, mas completamente interrompida; não mais lhe será permitido atuar no mundo, como quer que seja. Com Satanás, suas hostes de demônios e todos os pecadores que rejeitaram a Deus estarão fora do caminho, e o reino milenar de paz e justiça será estabelecido [na terra por mil anos]. O regente supremo neste reino será, naturalmente, o Senhor Jesus Cristo. Somente ele é o “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16), e “O Senhor Deus lhe dará [a Ele somente] o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32). E Ele ainda prometeu graciosamente que seus santos reinarão com Ele (Ap 2.26-27). Eles governarão subordinados sobre cada aspecto da vida no reino e, sendo glorificados e aperfeiçoados, cumprirão com perfeição a vontade de Deus.
Nesta visão, João vê o panorama do povo de Deus ressurreto, recompensado e reinando com Cristo [na terra por mil anos]. Ele viu tronos simbolizando autoridade judicial e real, com o povo de Deus os ocupando, e o julgamento lhes foi dado. Os santos glorificados promoverão a vontade de Deus e julgarão disputas. Política e socialmente, o governo de Cristo e de Seus santos será universal (Sl 2.6-8); Dn 2.35), absoluto (Sl 2.9; Is 11.4) e justo (Is 11.3-5). Espiritualmente, Seu governo será um tempo em que o remanescente descrente de Israel será convertido (Jr 30.5-8; Rm 11.26) e a nação será restaurada à terra que Deus prometeu a Abraão (Gn 13.14-15; 15.18). Será um tempo em que as nações gentílicas também adorarão o Rei (Is 11.9; Mq 4.2; Zc 14.16). O governo milenar de Cristo e de Seus santos será marcado pela presença da justiça e da paz (Is 32.17) e da alegria (Is 12.3-4; 61.3,7). Finalmente, será um tempo em que a maldição será interrompida (Is 11.7-9; 30.23-24; 35.1-2,7), um tempo em que haverá abundância de alimentos (Joel 2.21-27), um tempo em que haverá plena saúde e bem-estar (Is 33.24; 35.5-6), o que resultará em longevidade (Is 65.20).
Embora os amilenistas tentem reduzir o Premilenismo Futurista meramente a um ensino do Antigo Testamento, o fato é que a passagem mais explícita acerca do milênio encontra-se no livro final do Novo Testamento. Tomadas em seu sentido normal, as palavras de João não podem ser minimizadas. Como observa Walvoord:
O livro de Apocalipse, embora sujeito a todo tipo de abuso por parte da erudição e divergentes interpretações, quando tomado em seu propósito pleno, nos oferece um esboço simples da verdade Premilenista Futurista – primeiramente um tempo de grande tribulação; em seguida o segundo advento, o aprisionamento de Satanás, a libertação e bênção dos santos, o governo justo sobre a terra por 1000 anos, seguidos pelo julgamento final, e novos céus e nova terra.[12]
REUNINDO TODAS AS TESTEMUNHAS
O coração do debate milenista realmente encontra-se no Novo Testamento. Praticamente todos reconhecem que o Antigo Testamento ensina o Premilenismo Futurista – isto é, caso suas promessas sejam interpretadas literalmente. Os judeus do Antigo Testamento e do período entre os dois testamentos certamente entenderam tais promessas em termos literais. Eles esperaram um reino messiânico terreno – um tempo de grande bênção física e paz política para o mundo. A questão, então, é se os escritores do Novo Testamento desaprovam ou não tal perspectiva. E a resposta simples é não.
De fato, eles fizeram o oposto. Quando é seu propósito falar sobre o tratamento de Deus com os judeus, eles enfatizam o fato de que Ele ainda não concluiu Sua obra naquela nação. As promessas do Antigo Testamento ainda não se cumpriram, mas se cumprirão – do mesmo modo que a profecia bíblica se cumpriu com respeito à primeira vinda de Cristo. Ademais, o Novo Testamento especifica a duração do tempo, mil anos, que terá o reino milenar antes da história do mundo chegar ao seu fim, dando início ao estado eterno. Com a confiança de que todas as promessas de Deus verdadeiramente se cumprirão, os crentes podem esperar um futuro glorioso – tanto no reino milenar como além – que os aguarda e a todos que põem sua fé em Jesus Cristo.
– John MacArthur / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o Premilenismo Futurista – John MacArthur & Richard Mayhue – Cap. 8, Pág. 164-168.
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