David Cloud
Quanto mais velho eu fico, mais maravilhoso Deus se torna aos meus olhos. Com 63 anos de idade, lembro-me do ensino de João de que os pais “já conheceram aquele que é desde o princípio” (1 João 2:13). A característica do santo mais idoso é que ele ou ela conhece a Deus.
Contudo, o que conhecemos de Deus nesta vida é apenas um lampejo. Os santos aprenderão sobre Deus para sempre, visto como não existe limite algum à Sua Pessoa e Caráter. Deus é um Ser infinito e cada aspecto da Sua Pessoa é infinito. Suas riquezas são incompreensíveis (Efésios 3:8). Seu amor e Sua paz “excedem todo o entendimento” (Efésios 3: 19; Filipenses 4:7).
O aspecto mais delicioso e atraente de Deus ao pecador, é, sem dúvida o da Sua misericórdia, compaixão e proximidade, sendo este o tema principal dos salmos. Deus é o protetor e auxiliador do Seu povo. Este tema tem início no Salmo 3:2-3: “Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. (Selá.) Porém tu, SENHOR, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça”.
Através dos Salmos, quando o santo cai em aflições, que são parte frequente na vida presente, ele é lembrado de que Deus não o abandonará. Isso é verdade tanto para o remanescente judaico como para os santos de todas as eras.
Estas promessas nos ensinam sobre o caráter de Deus:
Primeiro, que Ele é compassivo e desejoso de ajudar. Deus não se mantém inatingível ao sentimento de nossas enfermidades.
Segundo, Ele pode ajudar. Ele é o Deus onipotente, onipresente, onisciente e imortal, com a capacidade de cumprir todas as Suas promessas:
a) - Deus é o meu pastor (Salmo 23). Esta é uma das passagens mais famosas e amadas da Bíblia, mas é erroneamente aplicada a todas as pessoas, quando, em verdade, ela se aplica apenas ao crente que tem colocado a sua fé na redenção de Deus em Cristo. O salmo descreve o mais íntimo e vigilante cuidado de Deus sobre o Seu povo: alimentando, conduzindo, protegendo, confortando e restaurando as suas almas, preparando-lhes uma mesa na presença dos seus inimigos.
Em minha vida cristã, tenho ficado sempre admirado de como o Senhor restaura nossas almas. Por causa do pecado, das aflições, da batalha espiritual e dos problemas desta vida, a alma se torna combalida ao peso do pecado e do egoísmo, mas Deus, o Pastor, a restaura.
O salmista descreve os problemas da sua alma, no Salmo 119. Sua alma está “pegada ao pó” (verso 25); “consumida de tristeza’” (verso 28); “como odre na fumaça” (verso 83), aqui referindo-se a uma vasilha de couro, que se tornou ressequida e sem viço, porque o seu conteúdo foi ressecado pela fumaça quente do fogo.
A alma do filho de Deus pode atravessar uma miríade de provações neste mundo amaldiçoado, mas o Senhor é fiel para restaurá-la.
Tem havido ocasiões em minha vida cristã, nas quais sinto como se minha alma estivesse espiritualmente morta e não mais fosse reviver para servir a Deus com bênção e alegria; mas ela é sempre “revivida” pela graça de Deus, sendo restaurada pelo Bom Pastor, quando habitamos em Cristo (João 15:5).
Às vezes, as plantas do chá precisam ser severamente podadas e, após essa poda, parece que as plantas acabaram; contudo, a poda é um aspecto necessário ao processo de produzir uma qualidade melhor de folhas do chá. Do mesmo modo, Deus é o dono que poda cada crente, a fim de que este produza mais fruto para a glória de Cristo. (João 15:1-2).
b) - Deus é mais fiel para ajudar do que minha mãe e meu pai (Salmo 27:10). O amor de um pai e de uma mãe é um dos maiores amores deste mundo, mas ele nada é comparado ao amor de Deus. Ao contrário de Deus, o amor dos pais humanos não é perfeito, mas sempre parcial, afetado pelos cuidados e aflições da vida, sendo, eventualmente, cortado pela morte.
Ele conhece o santo no tempo da tribulação (Salmo 37:18). Isto não significa apenas que Deus está ciente da situação do santo, mas que Ele está intimamente envolvido. Ele conhece intimamente a situação. Ele está ali. Está ciente. Ele cuida: “O próprio Davi lançou-se nos braços eternos, nos braços de um Deus, Que é tão grande que bilhões de estrelas dependem de Suas palavras e inumeráveis anjos se apressam em cumprir Suas ordens; mas, mesmo assim, Ele ainda encontra tempo para socorrer e confortar um filho mortal da arruinada herança de Adão!” (John Phillips).
d) - Ele sustenta o santo com a Sua mão. (Salmo 37:24). Que bela descrição do cuidado de Deus! Ele está tão próximo que segura o santo pela mão. Imaginem o Deus do universo designando-se a segurar a mão das criaturas caídas, que Ele redimiu, de modo a poder conduzi-las e protegê-las. Jesus ensinou que o crente está duplamente seguro em Sua mão e na mão do Pai (João 10:27-30). Isto significa, indescritivelmente seguro!
e) - Ele não abandona os Seus santos (Salmo 37:25,28). Esta é uma promessa maravilhosa demais. Todo mundo tem sido abandonado neste mundo, em uma ou outra ocasião, mas o Senhor não abandona os Seus santos. Nem mesmo nossos parentes mais próximos, pastores e mestres espirituais podem ser contados como estando próximos, para nos ajudarem em todos os momentos, a carregar nossos fardos e a cuidarem de nós o tempo inteiro. Eles têm suas próprias vidas e problemas a serem tratados e são meras criaturas decaídas, como nós mesmos. Por isso, a Bíblia diz: “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” ... “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:5,9).
Os que confiam no homem são sempre decepcionados. Serão escandalizados e amargurados por terem confiado em algo além do próprio Deus Bendito. Esta é a essência da idolatria. Quando Deus é colocado no lugar certo, tudo se encaixa no devido lugar.
f) - Deus pensa no santo para ajudá-lo e livrá-lo. (Salmo 40:17). É de fato admirável que o Deus do universo pense nos pecadores decaídos, mas Ele garante que isto é verdade. Não somos “pobres e necessitados?” Espiritualmente, estamos na bancarrota, à parte da justiça a nós imputada pelo sacrifício de Cristo. Fisicamente, somos dependentes de Deus, em cada exata respiração. (Salmo 104:24).
g) - Ele é o “socorro bem presente na tribulação” (Salmo 46:1). A palavra hebraica “matsa” traduzida como “bem presente”, às vezes é traduzida como “achar”. Ela é usada em Gênesis 2:20, quando Adão não achava uma ajudadora idônea. Embora toda a criação fosse considerada, nenhuma ajudadora fora encontrada. A pomba enviada por Noé não encontrou “matsa”(repouso). O Senhor disse: “Se eu em Sodoma achar... (matsa)” (Gênesis 18:26). O termo se refere a uma busca diligente. Do mesmo modo, no tempo da tribulação, o Senhor ali se encontra com todo o Seu Ser compadecido, conhecendo tudo sobre a situação, não apenas conhecendo, mas ajudando.
h) - “Ele é o nosso guia para sempre” (ou até a morte, Salmo 48:14). Visto como a morte é uma realidade neste mundo, por causa do pecado, a promessa de que Deus é o nosso guia “até a morte” é preciosa demais. Ele estará conosco quando atravessarmos o vale da sombra da morte (Salmo 23:4). O pensamento da morte é tipicamente aterrorizante e desestabilizador e os homens fazem tudo para evitá-lo, especialmente os que não conhecem Cristo. Mas, para o crente, o processo da morte é apenas uma sombra, que esconde momentaneamente o sol, e as sombras são passageiras. Em contraste, para o incrédulo, a morte é a entrada na escuridão e nas trevas eternas. Além disso, as trevas não prejudicam. A morte para o crente não é prejudicial, porque Jesus venceu a morte na cruz.
A significação básica da morte é separação. A primeira é a morte física, que é a separação do espírito do corpo (Tiago 2:26). Mas o aspecto mais aterrorizante da morte é a segunda morte, pela qual a alma é eternamente separada do Deus Criador, no Lago de Fogo. (Apocalipse 20:14-15; 21:8). Mas o Filho de Deus foi abandonado pelo Pai em nosso lugar, quando exclamou: “DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?” (Salmo 22:1). “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5). Quem nEle confia jamais será envergonhado.
A momentânea sombra da morte vai se transformar na gloriosa luz de uma eternidade de “delícias perpetuamente” com o Salvador. (Salmo 16:11).
Há pouco tempo, um homem solteiro de 22 anos de idade, chamado Sharan, membro de uma igreja pastoreada por um amigo, desmaiou durante uma conferência bíblica, na qual eu estava pregando, em abril, e precisou ser levado ao hospital, onde este fervoroso discípulo de Cristo faleceu, dentro de três semanas, vítima de leucemia. Ele sofria grande desconforto e dor, mas testemunhava, constantemente, de que Deus o estava ajudando. Ele disse: “Não tenho queixa alguma contra o Senhor. Ele tem-me dado alegria”. Ao olhar para todos os incrédulos no hospital, que estavam sofrendo de várias doenças, ele disse: “Aqui eu sou o único que não está doente”. Claro que ele quis dizer que em seu caso a moléstia fatal era apenas a porta de entrada à eterna bênção.
i)- Ele “conta as vagueações e põe as suas lágrimas no odre” (Salmo 56:8). A compaixão e o vigilante cuidado de Deus é muito aconchegante e materno. Novamente, quando o salmista diz: “Tu contas as minhas vagueações”, ele está dizendo não apenas que Deus as conhece intelectualmente, e as conta como um assunto de fato; ele está dizendo que Deus está intimamente envolvido em cada passo da vida do santo. No contexto, Davi estava em Gate, entre os filisteus, que eram seus inimigos. Pelo espírito da profecia, neste salmo, Davi estava expressando sua confiança em Deus, no íntimo e vigilante cuidado de Deus, através de todas as suas vagueações e provações.
Pensemos nas vagueações de Abraão, de José, de Moisés, dos filhos de Israel no deserto, de Jó e de Paulo. Do mesmo modo, Deus conta as vagueações e conhece as lágrimas de cada santo. Elas são até mesmo registradas em Seu Livro !
j) - Ele se compadece de nós como um pai se compadece dos seus filhos. (Salmo 103:13). Um pai normal muito se compadece dos seus filhos. “Racham”, a palavra hebraica traduzida por “piedade”, em algum lugar é traduzida por “amor” e “misericórdia”. Mesmo quando se trata de um pai humano, que não expressa muitas vezes, verbalmente, o seu cuidado, ele tem ternura pelos filhos, querendo o melhor para eles, desejando ajudá-los de todas as maneiras possíveis, pronto a perdoar-lhes as ofensas e almejando estar perto deles. Pois, quanto mais se compadece o Senhor dos Seus filhos adotados do que um pai terreno! (Mateus 7:11).
k) - Ele conhece a nossa estrutura (Salmo 103:14). A verdade declarada neste salmo se refere a muito mais do que a um conhecimento geral, como ao fato de que o Senhor sabe que somos pecadores caídos. Significa que Ele conhece a exata “estrutura” ou condição de cada santo, levando isto em consideração, ao tratar conosco. Ele sabe que somos feitos do pó e que logo ao pó voltaremos (Gênesis 2:7; 3:19). A verdade é que o santo mais apaixonado, conforme Paulo declarou, “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem... Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:18,24).
Assim como o oleiro conhece o caráter de cada tipo de barro, o Senhor sabe exatamente como lidar com cada santo, a fim de conformá-lo à imagem de Cristo: “Sendo ele o oleiro, eles o barro, Ele sabe o que são capazes de suportar e o que não são, de modo que, se Ele desce a Sua mão pesada demais, ou os açoita demais, ou repete os açoites frequentemente, eles se fazem em pedaços. Ele conhece a estrutura interior de suas mentes, a corrupção de suas naturezas, como são inclinados ao pecado e, portanto, não espera deles um serviço perfeito”. (John Gill).
“Ele considera aquela grande e constante propensão para o mal, a qual existe, naturalmente, em toda a humanidade e, portanto, se Ele tratar severamente conosco, poderá nos destruir, imediatamente. Ele considera a fraqueza e a mortalidade de nossa natureza e a fragilidade e miséria da nossa condição” (Matthew Poole).
l) - Ele não vacila em Seu socorro. (Salmo 121:1-3). Parece que algumas das maiores tribulações sempre acontecem durante a noite. Quem já não se sentou durante as escuras horas da noite, sofrendo aflições pessoais, suportando dúvidas e temores, entristecido, perturbado, preocupado, esperando, ao lado de uma cama ou no corredor de um hospital, por uma palavra de conforto? Em tais casos, os amigos mais íntimos poderiam estar dormindo e a enfermeira mais compassiva poderia estar cansada. De fato, até mesmo você poderia estar cansado e cair no sono, eventualmente, sem conseguir suportar tão grave tribulação, ou situação incerta, mas Deus nunca cochila.
m) - Seus pensamentos em nossa direção são inumeráveis (Salmo 139:17-18). Todo este salmo é uma revelação do terno e vigilante cuidado de Deus e do Seu íntimo envolvimento na vida de cada um dos Seus santos.
Quando Deus conhece os pensamentos e esquadrinha a vida do santos, Ele não o faz para condená-lo, mas para abraçá-lo, porque a Sua terrível santidade foi propiciada na reparação feita por Cristo: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.” (Romanos 8:15). Quando Ele me mostra o meu pecado, pelo Seu Espírito, Ele não o faz para me destruir, mas para me conduzir ao arrependimento, de modo a me conformar à imagem de Cristo.
É neste exato contexto que Ele conhece o meu deitar e o meu levantar. Ele conhece os meus pensamentos (Salmo 139:2). Ele conhece os pensamentos dos homens (Lucas 6:8). Ele conhece a minha vereda e conta todos os meus caminhos (Salmo 139:3). Ele conhece cada palavra que eu falo (Salmo 139:4). Ele me cerca por trás e por diante (Salmo 139:5). Em toda parte, Ele me conduz e me guarda, com a sua mão. (Salmo 139:9-10).
Os anjos são mensageiros e ajudadores, mas o Senhor não deixa o cuidado do Seu povo a ninguém mais. É com a sua própria mão que Ele nos conduz e sustenta. “Tu me cobriste no ventre da minha mãe, a começar da concepção” (Salmo 139:13-16).
Os trilhões de partes de cada célula e a interligação dos 60 trilhões de células em meu corpo são obra da Tua mão. O DNA de cada célula, com a sua inestimável soma de informações, é obra da Tua mão. Teus pensamentos são inumeráveis como a areia (Salmo 139:17-18).
Foi a redenção em Cristo que removeu o terror do fato de que Deus conhece cada detalhe da minha vida, inclusive cada pensamento, atitude e ação pecaminosos. Toda a minha iniquidade foi colocada sobre Cristo e fui declarado justo aos olhos de Deus (2 Coríntios 5:21). Portanto, não temo, ao pedir que Deus me esquadrinhe os maus caminhos, a fim de que eu possa confessá-los e continuar em comunhão com Ele, para andar conforme a Sua vontade. (Salmo 139:23-24; 1 João 1:9). Quanto mais entendemos a salvação de Deus e como tão completamente a Sua Lei foi propiciada (satisfeita) no sangue de Cristo, mais podemos confiar nEle e dEle nos aproximarmos, em vez de fugir, como Adão.
O que estas promessas não significam - Elas não significam que Deus retire as tribulações do santo. Ele usa as tribulações para nos purificar e aumentar a nossa fé. Elas são necessárias para o nosso crescimento espiritual. Deus não remove a tribulação; Ele está conosco na tribulação e no controle da situação.
Estas promessas não significam que Deus ignore o pecado do santo, mas que Ele usa qualquer nível de castigo, se este for necessário ao arrependimento.
David Cloud - “God’s Watch Care”
Traduzido por Mary Schultze, em 23/06/13.
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