Esta é a segunda de uma série de quatro partes sobre o Batismo Cristão. Deixe-me contar
um pouco sobre como eu estou escolhendo os textos para pregar. Eu descobri em meus
tempos de seminário e de pós-graduação que minhas velhas formas de defender o Batismo
de crentes não eram convincentes. Eu costumava passar o tempo lembrando que todos os
Batismos descritos no Novo Testamento são Batismos de crentes e que todos os comandos
para que sejam batizados são dados aos crentes.
Eu costumava salientar que o batismo
infantil simplesmente não é mencionado na Bíblia e que é questionável a construção de
uma prática fundamental da igreja em uma inferência teológica, sem ensino bíblico explícito
quando todos os exemplos vão na direção oposta.
Mas eu descobri que aqueles que batizam crianças (“pedobatistas”) não eram influenciados por essas observações, porque eles pontuam que, é claro, nós vemos somente o Batismo do crente no Novo Testamento, pois estamos lidando com o estabelecimento da primeira
geração evangelizada, não com a segunda geração de seus filhos. Todos concordam que
os únicos adultos que devem ser batizados são os que creem quando adultos. A questão
é, o que acontece quando esses adultos Cristãos batizados têm filhos?
Então eles apontaram que todas as minhas estatísticas são irrelevantes e a questão resumese a uma inferência teológica. Especificamente, o Batismo Cristão é paralelo à circuncisão
do Antigo Testamento como sinal daqueles que se juntam ao povo da aliança de Deus, e
se assim for, não devem os filhos de Cristãos receberem o Batismo do mesmo modo que
os filhos de Israel receberam a circuncisão? Por exemplo, o Catecismo de Heidelberg foi escrito em 1562 como uma expressão da fé
reformada. É dito por alguns ter a intimidade de Martinho Lutero, a caridade de Filipe Melanchthon e o fogo de João Calvino: três grandes reformadores do século 16.
No final da seção
sobre o batismo, a questão #74 pergunta:
“As crianças pequenas devem ser batizadas?”.
A resposta é a seguinte:
Sim. As crianças, assim como os adultos, pertencem à aliança e à igreja de Deus. Através do sangue de Cristo lhes são prometidos, da mesma forma que aos adultos, a
redenção do pecado e o Espírito Santo, que opera a fé.
Assim as crianças, por meio
do batismo como sinal da aliança, devem ser enxertadas na igreja de Cristo e distinguidas dos filhos dos incrédulos.
Na velha aliança isso era feito pela circuncisão, que,
na nova aliança, foi substituída pela instituição do batismo.¹
Ora, este tem sido o entendimento padrão do batismo entre os Presbiterianos, Congregacionais, Metodistas e muitos outros por centenas de anos. Luteranos e Papistas defendem a
prática do batismo infantil de forma diferente, dando mais ênfase do que essas outras igrejas têm sobre o efeito regenerador real do ato.
Novas Verdades São Reveladas Na Nova Aliança?
Assim, uma das questões mais importantes que você deve enfrentar quando refletir sobre
o mandamento do Novo Testamento para ser batizado é se você acha que esse paralelo
com a circuncisão resolve a questão. Ou seja, é a vontade de Deus revelada no Novo Testamento que o Batismo e circuncisão correspondam tão intimamente que o que a circuncisão
significou, o Batismo significa também? Ou há novas verdades sobre a criação e a natureza
do povo de Deus na Nova Aliança, que apontam para uma descontinuidade, bem como a
continuidade entre circuncisão e Batismo?
Bem, em minhas lutas com esta questão ao longo dos anos, especialmente os anos de pósgraduação, quando eu estava estudando principalmente com pedobatistas, três ou quatro
textos, mais do que quaisquer outros, me impediram de abraçar o argumento da circuncisão. Um deles é Colossenses 2:11-12. Outro é 1 Pedro 3:21. Outro é Romanos 9:8. E outro
é Gálatas 3:26-27. Tomarei o texto de Colossenses hoje e abordarei os outros nas próximas
semanas.
Mas, primeiramente, asseguremos que não nos esqueceremos da floresta, pelas árvores.
Este texto (Colossenses 2:10-15) é uma floresta tropical de forte madeira evangélica. Obtenha uma visão de olho de pássaro desta floresta comigo. É tudo sobre o que Deus fez por
nós (na história, objetivamente por meio de Cristo), e que Ele tem feito em nós, para que
possamos de fato herdar o que Ele comprou.
Tiremos o primeiro objetivo, histórico e externo da obra de Deus dos versículos 14-15. Em
essência, o que esses dois versículos nos dizem é que os nossos dois maiores inimigos foram derrotados na morte de Cristo. Nada mais poderoso do que a morte de Cristo já aconteceu.
O primeiro inimigo derrotado foi a “cédula que era contra nós”, que foi apresentada contra
nós no tribunal do Céu. Em outras palavras, por causa do nosso pecado e rebelião, as leis
de Deus tornaram-se uma testemunha mortal contra nós e nós estávamos em tal dívida
profunda com Deus que não havia saída. O versículo 14 diz que Cristo cancelou essa dívida
toda, pagando-a totalmente, na cruz. “Havendo [Ele] riscado a cédula que era contra nós
nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de
nós, cravando-a na cruz”. Então, os nossos grandes inimigos: pecado, culpa e dívida; foram
derrotados por Cristo. Isso aconteceu na história, objetivamente, fora de nós.
O segundo inimigo derrotado foi a hoste dos seres espirituais do mal: o Diabo e suas potestades. Versículo 15: “E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e
deles triunfou em si mesmo”. É verdade que ainda temos que “lutar com os principados e
potestades” (Efésios 6:12), mas, se lutarmos no poder de Cristo e Seu sangue derramado,
eles são derrotados, porque o golpe que Ele desferiu foi letal. Apocalipse 12:11 diz que os
crentes “venceram [o Diabo] pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e
não amaram as suas vidas até à morte”. Temos de lutar. Mas a batalha pertence ao Senhor
e o golpe decisivo foi desferido no Calvário. Satanás não pode destruir-nos.
Agora, além destes dois grandes triunfos objetivos, externos e históricos sobre os nossos
piores inimigos (a dívida do pecado diante de Deus e a derrota do Diabo na terra), esta floresta também descreve o que Deus faz em nós, não apenas para nós e fora de nós, mas
em nós, para que nós nos beneficiemos do que foi feito fora de nós.
Ele usa duas imagens: uma é a circuncisão e o outra é a ressurreição. O versículo 13 se
concentra principalmente na nossa ressurreição: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas”. Então você vê o que Ele fez em nós: estávamos mortos espiritualmente,
e Ele deu-nos vida. Este é o milagre do novo nascimento. Você foi salvo porque Deus foi
um doador de vida, ressuscitando-o em seu coração, pela Palavra (2 Coríntios 4:6).
A outra imagem do que Deus fez em nós é a imagem da circuncisão. Versículo 11: “No qual
também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos
pecados da carne, a circuncisão de Cristo”.
Agora isso é mais difícil de entender porque as ideias são muito estranhas para nós. Paulo
compara a obra salvadora de Deus em nós, com a prática da circuncisão. Ele diz que é
assim, só que esta é uma circuncisão feita “sem as mãos”, ele está se referindo a algo espiritual, não físico. E ele diz que o que está sendo cortado não é o prepúcio masculino, mas
o “corpo dos pecados da carne”.
Na linguagem de Paulo, isto é provavelmente uma referência ao domínio que o pecado e o “eu” detêm sobre o corpo.
O que é cortado nesta circuncisão espiritual “sem as mãos” é o velho eu incrédulo, cego e rebelde e suas manifestações
pecaminosas através do corpo. E dessa forma, Paulo está dizendo, Deus assim faz uma
pessoa ser propriamente Sua.
Assim, vimos dois retratos do que Deus faz por nós, objetivamente, historicamente e externamente a nós mesmos, para nos salvar: Ele derrota nossos inimigos, a saber, o pecado e
Satanás. E vimos duas figuras do que Deus faz em nós para nos tornar parte desta salvação: Ele nos ressuscita dos mortos espiritualmente e Ele circuncida nosso coração, tira fora
o velho e rebelde eu, e nos faz novas criaturas.
Batismo e Circuncisão
Agora, naquela floresta da gloriosa Noa Notícia, aqui vai a pergunta sobre a árvore do Batismo: o Batismo nas águas é a contrapartida Cristã à circuncisão do Antigo Testamento? É
a continuidade de tal forma que, assim como a circuncisão foi dada aos filhos de povo da
aliança de Deus, assim, o Batismo deve agora ser dado aos filhos do povo pactuado de
Deus?
Os versos-chave são os versos 11-12. Observe a ligação das duas ideias sobre circuncisão
e Batismo: “...No qual [Cristo] também estais circuncidados com a circuncisão não feita por
mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; sepultados com
ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou
dentre os mortos”.
É claro que há uma ligação aqui entre o Batismo e a circuncisão. Mas não é, eu acho, o
que muitos batizadores infantis pensam que é. Observe que tipo de circuncisão é nada no versículo 11: é precisamente a circuncisão “não feita por mão”. Isso significa que
Paulo está falando sobre uma contraparte espiritual do ritual físico do Antigo Testamento.
Em seguida, o Batismo está vinculado no versículo 12 como contraparte espiritual para a
circuncisão do Antigo Testamento. Isto é extremamente importante. Tente compreendê-lo.
O que é a contrapartida do Novo Testamento ou o paralelo com o rito do Antigo Testamento
da circuncisão? Resposta: não é o rito do Batismo do Novo Testamento; é o acontecimento
espiritual Neotestamentário da circuncisão de Cristo que corta “do corpo dos pecados [a
velha pecaminosidade] da carne”. Então, o Batismo é apresentado como a expressão externa dessa realidade espiritual. Isso é precisamente o que a ligação entre os versículos 11 e
12 diz. Cristo faz uma circuncisão sem mãos; a qual é, no Novo Testamento, a realização
espiritual da circuncisão do Antigo Testamento. Então, o versículo 12 estabelece o paralelo
entre essa satisfação espiritual e o rito externo do Batismo.
Observe o que o versículo 11 intenciona sobre a nova obra de Cristo ao circuncidar: é uma
circuncisão “sem mãos”. Mas o Batismo na água é enfaticamente um ritual feito “com as
mãos”. Se nós simplesmente dizemos que esta ordenança do Novo Testamento sobre o
Batismo feita com as mãos corresponde ao ritual do Velho Testamento da circuncisão feito
com as mãos, então perdemos a verdade mais importante: algo novo está acontecendo na
criação do povo de Deus chamado, a Igreja de Cristo. Eles estão sendo formados por uma
“circuncisão não feita por mão” pelo próprio Deus. Eles estão sendo ressuscitados dos mortos por Deus e o Batismo é um sinal disto, e não uma repetição do sinal do Antigo Testamento. Há um novo sinal da aliança, porque o povo da aliança está sendo constituído de
uma nova maneira: pelo nascimento espiritual, não pelo nascimento físico
“Através Da Fé”
Uma das evidências mais claras para isso é a pequena frase “pela fé” no versículo 12.
Atente para isto cuidadosamente. Isso é o que me preservou do pedobatismo através de
anos de luta, até que eu vi mais e mais motivos para não me juntar aos pedobatistas. O
versículo 12 liga a circuncisão espiritual e “não feita por mão” do Novo Testamento, que
aparece no versículo 11, com o Batismo, e depois liga o Batismo com a fé: “Sepultados com
ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou
dentre os mortos”.
Se o Batismo fosse apenas um paralelo do rito do Antigo Testamento sobre a circuncisão
não teria que acontecer “pela fé”, já que as crianças não recebiam a circuncisão “pela fé”.
A razão pela qual a ordenança do Novo Testamento sobre o Batismo deve ser “pela fé” é
que ela não representa o ritual externo do Antigo Testamento, mas no Novo Testamento
representa a experiência interior e espiritual da circuncisão “não feita por mão”.
Essas duas palavras: “pela fé”, que aparecem no versículo 12 são a decisiva e definitiva
explicação da forma como fomos sepultados com Cristo no Batismo e como fomos ressuscitados com Ele no Batismo, e isto acontece “pela fé”. E isso não é algo que os bebês experienciam. A fé é uma experiência consciente do coração que se rende à obra de Deus. Os
bebês não são capazes disso e, portanto, não são sujeitos apropriados para o Batismo, que
é “pela fé”.
Então eu peço àqueles de vocês que ainda não chegaram à fé em Cristo a considerarem a
floresta de boas notícias nestes versos, a saber, que Cristo morreu e ressuscitou para
cancelar a nossa dívida com Deus e para triunfar sobre Satanás; e que Ele ressuscita as
pessoas espiritualmente mortas desde a sepultura e circuncida o coração pecaminoso, e
Ele faz tudo isso por meio da fé. Ele nos leva a confiar nEle, mostrando-nos quão verdadeiro e belo Ele é. Olhe para Ele e creia.
E então Ele nos convida a expressar essa fé no Batismo. Se você quer se preparar para
dar este passo de obediência, você pode vir até aqui depois do serviço, ou você pode
verificá-lo na agenda dos serviços de adoração, ou você pode vir para a classe de
preparação para o Batismo no próximo Domingo, que durará duas semanas.
Que o Senhor possa chamar muitos de vocês para o gozo desta plena obediência “pela fé”.
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